Após 50 anos de casamento — eu escolhi a liberdade. E no dia seguinte perdi tudo…

Parecia que isso nunca iria acontecer. Cinquenta anos sob o mesmo teto — passamos por tudo: pobreza, doenças, nascimento dos filhos, lágrimas, festas. As pessoas diziam: «Esta sim é uma família!». Só que elas não sabiam que dentro da nossa casa eu tinha deixado de ser eu mesma.
Ele nunca me bateu, nunca me ofendeu. Apenas vivia — como se eu não existisse ao seu lado. Eu cozinhava, lavava, sorria para as fotos, mas por dentro morria lentamente. Todas as decisões ele tomava sozinho: o que comprar, para onde ir, com quem falar, o que dizer. Até mesmo o que eu deveria vestir nas festas. Eu me acostumei — e depois simplesmente desaprendi a querer algo para mim.
Quando os filhos cresceram e saíram de casa, o silêncio entre nós se tornou insuportável. Durante o almoço, ele falava sobre o tempo, e eu me pegava pensando que queria fugir. Para qualquer lugar — só para não ver aquele rosto indiferente na minha frente. E um dia, ao acordar de manhã, percebi que não aguentava mais.
Eu tinha 75 anos quando fiz as malas e pela primeira vez em muito tempo escolhi a mim mesma.
Nós nos divorciamos tranquilamente — sem gritos, sem ressentimentos. Assinamos os papéis, apertamos as mãos. O advogado sugeriu tomar um café — «como amigos». Sentamos à mesa. Ele pegou o cardápio, olhou para mim e disse num tom habitual:
– Pegue uma salada, você nunca termina a carne mesmo.
Algo dentro de mim se rompeu. Passei meio século ao lado de uma pessoa que ainda agora decide o que eu vou comer. De repente, percebi claramente: durante todo esse tempo, ele nunca me ouviu. Nunca.
– É por isso que eu não quero mais estar com você! – gritei, levantei e fui embora, sem olhar para trás.
No dia seguinte, eu não atendi o telefone. Ele ligou, escreveu, deixou mensagens — eu não queria ouvir nada.
Pensei que agora finalmente iria respirar. Que, enfim, estava livre.
Então o advogado ligou.
– Ele não me pediu para ligar, – disse ele em um tom calmo. – Mas é sobre ele. Há algo que você não sabe…
Sentei-me, sentindo o frio tomar conta de mim.
– O que aconteceu? – perguntei.
Pausa.
– Ele morreu ontem. Infarto. No café onde vocês estavam sentados.
Não me lembro de como cheguei à cama. Simplesmente sentei e fiquei olhando para minhas mãos. Essas mãos velhas e cansadas, que carregavam tantos anos de amor, mágoa e paciência.
Pensei que o odiava, que queria esquecer, apagar, riscar.
Mas descobri — que estava apenas cansada de esperar que ele olhasse para mim e dissesse, pelo menos uma vez: «Como você está?».
Agora, no meu apartamento, novamente há silêncio. Mas é diferente.
Não é um silêncio ensurdecedor, opressivo — é apenas um silêncio em que vive o arrependimento.
Às vezes, eu me sento com uma xícara de chá e penso:
será que ele simplesmente não sabia amar de outro jeito?
Você já deixou alguém que, talvez, amasse você — só que de uma forma que você não conseguia entender?



