O avô que todos os dias ajuda uma mulher desconhecida a atravessar a rua — porque sente falta da sua esposa

Sete e quarenta e cinco da manhã. No canto do cruzamento, ele aparece — de casaco, com uma bengala, com um olhar gentil. Um pouco curvado, com passos firmes, como lhe ensinaram antigamente no exército. Ele a espera.
A velhinha sai da casa em frente, apoiando-se em sua bengala. Eles não se cumprimentam muito. Apenas acenam um para o outro. Ele se aproxima, toma seu braço, e juntos atravessam a rua.
Lentamente, passo a passo. Os carros param. Alguns observam com irritação. Outros sorriem. Ele não nota. Está ocupado com algo — importante. Para ele — talvez até sagrado.
Ele não sabe o nome dela. Ela não sabe o dele. Ela é simplesmente aquela que ele ajuda. Ela é o motivo para sentir novamente uma mão ao lado. Uma vez, não muito tempo atrás, ele segurava assim a mão de sua esposa. Ela tinha medo de atravessar a rua — e ele estava sempre lá. Mesmo quando ela não precisava — ainda assim ele segurava sua mão.
Desde que ela partiu, as mãos dele estão vazias. O lugar na cama — também. As panelas permanecem intocadas, a chaleira esquenta água apenas para um. Ele se acostumou. Mas não com a solidão — com o silêncio ao lado. Mas aqui — pelo menos por cinco minutos — a mão está novamente na dele.
Ele fala com ela às vezes:
— Cuidado, tem uma cratera aqui…
Ela acena.
— Obrigado.
— De nada, sempre.
Depois, ele a acompanha até a farmácia, tira o chapéu, se despede. E retorna sozinho. Ninguém espera, ninguém chama. Mas o dia já começou de maneira correta.
Cada dia é o mesmo. E cada dia é especial. Porque enquanto se pode ser necessário — se pode viver. Mesmo que não seja com a pessoa amada. Ainda assim — ser útil, estar presente.
Mesmo que seja com uma pessoa desconhecida. Porque estranhos — não existem. Especialmente, quando o coração ainda lembra como é segurar a mão de uma mulher amada.