Histórias

A mamãe não foi à minha formatura — porque não conseguia se perdoar

Quando saí de casa no dia da minha formatura, eu ainda acreditava que ela iria aparecer. Verifiquei o telefone a cada minuto, esperando uma mensagem, uma ligação, embora soubesse que, com aquele silêncio até então, era muito provável que ela não viesse.

Minha mãe sempre esteve por perto. Às vezes — até demais. Com seus medos, preocupações e conselhos que mais pareciam ordens. Mas, acima de tudo, sempre presente. Eu cresci ao lado dela. Nós duas. Sem pai, sem avós, sem irmãs. Apenas nós. Ela trabalhava em dois empregos, nunca se queixava, sempre fazia tudo para me dar uma vida “melhor”. Eu valorizava isso. Mas, com os anos, o silêncio entre nós se tornou mais frequente que as conversas.

Quando entrei na faculdade, ela disse que era uma decisão minha. Mas eu podia enxergar o quão difícil era para ela. Eu estava indo embora. Me tornando adulta. E ela — permanecia na mesma casa, com o mesmo papel de parede, na mesma poltrona. Ela ligava com frequência, às vezes — até demais. E eu respondia cada vez menos.

Então chegou o dia da formatura. Comprei um vestido, convidei-a. Até enviei um mapa para facilitar que ela encontrasse o local. A resposta dela foi curta: «Vamos ver». Eu sabia — isso não era um bom sinal.

Lá estava eu, no palco, com o diploma nas mãos. Flores. Flashes de câmeras. Aplausos. Eu a procurei com os olhos — em vão. Ela não estava lá. Eu nem chorei. Apenas senti um vazio por dentro. E a pergunta: por quê?

A resposta veio mais tarde. Fui para casa. Ela me recebeu na porta, com seu velho roupão, e maçãs assadas, como se fosse um dia qualquer. Eu não aguentei:

— Por que você não foi?

Ela abaixou os olhos. Depois, disse muito baixinho:

— Porque eu não sentia que merecia estar lá.

Eu não entendi.

— Achei que tinha estragado demais a sua vida. Que não te deixei ser livre. Que fui autoritária. E agora, vendo você crescida, eu não sabia como estar ao seu lado sem atrapalhar. Eu me sentia envergonhada. Envergonhada por não ter sido a mãe que você pudesse sentir orgulho de convidar.

Eu fiquei em silêncio. Porque entendi: enquanto eu me sentia esquecida, ela se sentia culpada. Estávamos, cada uma a seu modo, sozinhas.

Me aproximei, abracei-a. E pela primeira vez em muito tempo, disse:

— Você foi. Você é. E eu sempre quis que você estivesse ao meu lado. Não perfeita. Apenas — mãe.

Às vezes, aqueles que não aparecem — não o fazem porque não querem, mas porque não conseguem se perdoar pelo passado. Mas, se queremos seguir adiante — precisamos aprender a chamar. Até mesmo aqueles que duvidam merecer estar ao nosso lado.

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