Todas as noites, ela colocava uma xícara de chá no parapeito da janela – uma manhã, a xícara desapareceu

Todas as noites, depois das oito, Laura fazia chá — forte, com uma colher de mel — e colocava a xícara no parapeito da janela do quarto. A janela dava para o jardim, onde durante o dia as crianças dos vizinhos brincavam, mas à noite só se ouvia a respiração do vento e o sussurrar das folhas. Ninguém entendia por que ela fazia isso. Mas Laura fazia isso todos os dias. Sem exceção.
Um dia, esse foi um ritual. Para dois. Seu marido, Tom, adorava tomar chá ao entardecer, com vista para o jardim. Depois que ele se mudou para outra cidade — trabalho, nova vida, coisas de adulto — o hábito continuou. Mas agora ela colocava apenas uma xícara. E deixava lá. Por nada em especial. No começo, por memória. Depois — como se fosse para alguém que poderia passar por ali.
Os meses se passaram. Os vizinhos se acostumaram. Laura morava sozinha, trabalhava de casa, às vezes escrevia artigos para o jornal local. E sempre, depois das oito — chá no parapeito.
Certa manhã, enquanto se preparava para despejar a bebida esfriada, Laura percebeu: a xícara não estava ali. Simplesmente havia desaparecido. Sem deixar rastro, nem uma gota. Apenas a marca fina de um anel no parapeito. Ela pensou — o vento? Pássaros? Mas a janela estava fechada. Ela refletiu. E… colocou outra xícara naquela noite. E novamente — de manhã, nada.
Depois de alguns dias, ela decidiu se esconder atrás da cortina e observar. O tempo passou. O jardim escurereceu. De repente, ela percebeu: perto da cerca havia um menino. Devia ter uns oito anos. Aproximou-se cuidadosamente da janela, ficou na ponta dos pés, pegou a xícara e sentou-se sob uma árvore. Bebeu devagar, com calma, como se fosse algo precioso. Depois deixou a xícara na porta de entrada e saiu correndo.
Laura saiu para o alpendre, mas não correu atrás dele. No dia seguinte, ela adicionou um bilhete ao chá: «Quem é você?»
A resposta chegou no dia seguinte — não em palavras, mas com um desenho. Uma menina de cabelos longos, um menino com uma xícara. E uma casa. No verso — com letras tortas: «Eu sou Sam. Obrigado».
Acontece que Sam morava com a avó numa casa do outro lado da rua. Os pais não estavam por perto. A avó frequentemente ficava doente. Ele vinha ao jardim quando se sentia sozinho. E um dia, viu a luz e a xícara. Ela estava quente. E de repente — como se alguém estivesse esperando por ele.
A partir de então, Laura passou a colocar duas xícaras no parapeito. Uma de manhã — para que ele não tivesse que esperar até a noite. E outra à noite — para ela mesma. E, nos fins de semana, Sam começou a entrar para tomar chá. Primeiro em silêncio. Depois com perguntas. E depois com sorrisos.
O verão veio e foi. O outono chegou. Sam começou a ir à escola. E Laura voltou a escrever. Mas agora, nas suas janelas, havia não só luz, mas também voz.
Às vezes, para algo começar, basta uma xícara de chá. E uma janela aberta.