Cães

Eu não queria adotar um cachorro de um abrigo, mas ela me salvou antes que eu percebesse

Eu não posso dizer que alguma vez fui uma “amante de cachorros”. Na verdade, era o contrário – sempre pensei que cachorros exigiam muito tempo, atenção e afeição. Após a morte do meu marido, fiquei sozinha em uma casa grande e silenciosa, e parecia que o silêncio era tudo que eu precisava. Sem barulho, sem preocupações extras.

Um dia, uma amiga me convenceu a ir com ela a um abrigo – ela queria adotar um gatinho. Nós só fomos “dar uma olhada”. Caminhei pelos corredores com as jaulas tentando não olhar nos olhos daqueles animais. Parecia que se eu hesitasse por um segundo, não conseguiria ir embora.

E então, em uma das jaulas, eu a vi. Uma vira-lata de tamanho médio, com uma engraçada mancha branca no peito. Ela não pulava, não arranhava a porta, nem latia. Apenas estava sentada e me olhando. E havia algo no olhar dela que não consigo descrever em palavras. Como se ela já me conhecesse.

– Quer segurá-la? – perguntou uma funcionária do abrigo. – Ela é muito tranquila. O nome dela é Amy.

Recusei. Quase com medo. Mas à noite, não conseguia tirar aquele olhar da cabeça. Era caloroso, tranquilo e… necessitado.

Dois dias depois, eu voltei. E disse: “Vou levá-la. Mas só por um tempo. Vamos tentar.”

A partir desse dia começou nosso “por um tempo”, que já dura mais de dois anos.

No começo, Amy realmente era silenciosa. Como se sentisse minha fragilidade. Ela não exigia atenção, não latia, apenas estava lá. Toda manhã, ela deitava silenciosamente ao lado da cama, e quando eu chorava, colocava a cabeça em meu colo.

Um mês depois, pela primeira vez em muito tempo, senti vontade de sair de casa – apenas para levá-la para passear. Depois, começamos a caminhar no parque, e então comecei a cumprimentar pessoas que antes nem percebia.

Um dia, adormeci esquecendo-me de desligar o fogão. Amy latiu. Primeiro baixo, depois cada vez mais alto, até me levar à cozinha. E então eu percebi: ela me salvou. Não pela primeira vez. Só que agora – literalmente.

Adotei-a porque ela precisava de um lar. Mas, na verdade, quem precisava de um lar era eu. E ela me deu isso. Não paredes, nem móveis – mas calor. Vida.

Amy não sabe falar. Mas em seu olhar estão milhares de palavras. Sobre como ela está sempre ao meu lado. Como eu não estou sozinha. Como até os corações mais quebrados podem ser ensinados a bater novamente – basta um pouco de calor… e uma carinha no colo.

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