Histórias

Minha esposa deixou-me e aos nossos filhos depois que eu perdi o emprego. Depois de dois anos, encontrei-a por acaso em um café

Quando fui despedido, fiquei em choque, mas não entrei em pânico. Eu acreditava que tudo se acertaria — sempre soube trabalhar, e sempre fui habilidoso. Tinha uma família: esposa, dois filhos, uma casa aconchegante e a convicção de que juntos superaríamos.

Mas minha esposa pensava diferente.

No primeiro mês ela ficou em silêncio. No segundo — começou a culpar. No terceiro — começou a arrumar as malas.
— Cansei de ser a forte por todos, — disse ela naquela noite em que bateu a porta. — Eu também quero viver, não apenas sobreviver.

Ela saiu. Disse que precisava “pensar”, mas nunca mais voltou. Ficamos nós três: eu, Maria — 6 anos, e Daniel — 3. No começo, eu não sabia o que fazer. Eu cozinhava mal, esquecia-me das roupas para lavar, às vezes não sabia onde conseguir dinheiro. Mas as crianças estavam lá. E cada “pai, eu te amo” delas colava como um remendo no meu coração partido.

Consegui um emprego como carregador, depois um bico em um armazém. Vivíamos modestamente, mas a cada mês eu me sentia mais confiante. As crianças cresceram. Aprenderam a ajudar. Ríamos à noite, fazíamos panquecas, líamos livros. Eu me sentia vivo novamente. E dela — quase não me lembrava.

E então — dois anos se passaram — uma manhã comum de sábado. Entrei em um pequeno café perto do parque. As crianças estavam com minha mãe, então me permiti uma boa xícara de café. Quando levantei o olhar da xícara, vi-a. Sentada à mesa perto da janela. Continua a mesma — bem cuidada, com maquiagem impecável. Mas seu olhar estava cansado.

Ela também me notou. Parou por um segundo, então se levantou e veio em minha direção.

— Oi… — disse ela.
— Oi, — respondi eu.
— Você está com boa aparência, — um sorriso tímido. — Como estão as crianças?

Respondi calmamente. Contei como Maria começou a fazer aulas de música, e como Daniel agora constrói castelos com tudo o que encontra.

Ela ficou em silêncio. Depois, disse baixinho:
— Sinto saudades deles.

Eu assenti.
— Eles de você — não. Desculpe, mas é assim que é.

Seus olhos encheram-se de lágrimas.
— Eu pensava… que tudo desmoronaria. Achava que não conseguiríamos. E você… Você conseguiu. Sem mim.

Eu não estava mais zangado. Já não.
— Sim, eu consegui. Porque eu não tinha escolha.

Ela tentou sorrir.
— Posso vê-los algum dia…?

Fiz uma pausa. Depois disse:
— Talvez. Mas não agora. Eles precisam de tempo. E eu também.

Não falamos mais. Ela saiu, como da última vez — silenciosamente, sem bater a porta. E eu fiquei, terminando meu café, pensando em como a vida pode ser estranha.

Às vezes, aqueles que deveriam ficar — vão. E aqueles que não deviam nada — ficam. E é com eles que se constrói o que é verdadeiro.

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