Encontrei um homem sem-teto perto de uma lixeira e decidi acolhê-lo em minha casa, mas perdi a fala quando ele saiu do banho…

Nunca fui uma pessoa que ignora a dificuldade dos outros. Talvez seja uma característica minha, ou talvez a influência da minha avó, que sempre dizia: “Ajude, se puder. O mundo fica melhor com cada boa ação”.
Aquela noite, eu voltava do trabalho para casa. Estava frio, as primeiras geadas do outono já faziam as pessoas se embrulharem em cachecóis e apressarem-se para suas casas quentinhas. Eu estava indo para a loja comprar pão quando o vi.
O homem estava parado perto de uma lixeira, encurvado, numa velha e suja capa. Suas mãos tremiam de frio e seu olhar estava fixo no chão. Ele não pedia esmolas, não estendia as mãos. Apenas estava ali, como se pedisse desculpas por sua presença.
Parei, sentindo algo apertar por dentro.
— Você está com fome? — perguntei.
Ele levantou os olhos. Eram azuis, quase transparentes, e mostravam tanta exaustão que eu mal conseguia sustentar seu olhar.
— Um pouco, — respondeu ele com a voz rouca.
Comprei-lhe comida na loja mais próxima: sanduíches, café quente e uma barra de chocolate. Ele agradeceu como se eu tivesse lhe dado algo inestimável.
— Você tem um lugar para passar a noite? — escapou de mim.
Ele ficou envergonhado, olhou em volta, como se verificasse se havia mais alguém falando.
— Não, mas vou me virar.
E então fiz algo que não esperava de mim mesma.
— Venha comigo. Tenho um quarto de hóspedes. Você pode tomar um banho e passar a noite.
Ele ficou imóvel.
— Você fala sério? — perguntou ele, incrédulo.
— Absolutamente.
Não pensei no que estava fazendo. Não perguntei a mim mesma se era seguro. Simplesmente não podia deixá-lo lá no frio.
Quando chegamos, mostrei-lhe o quarto e ofereci que tomasse um banho enquanto eu aquecia o jantar.
— Obrigado, — ele disse baixinho, pegando toalhas limpas.
A gratidão dele era tão sincera que me fez querer fazer ainda mais.
Pus uma panela de sopa no fogão e comecei a preparar o chá. Uns quinze minutos se passaram e ouvi a água do chuveiro parar.
— As toalhas estão no banheiro, você pode usar o roupão, — gritei para que ele ouvisse.
Não houve resposta. Saí da cozinha para ver se estava tudo bem. E nesse momento ele apareceu na porta.
Quando saiu do banheiro, fiquei sem palavras. Diante de mim estava uma pessoa totalmente diferente. Cabelos limpos, pele clara, e as roupas que dei a ele o tornaram completamente irreconhecível.
Mas não era só isso.
Eu o observei e não pude acreditar. Seu rosto parecia… familiar. Tão familiar que fiquei sem fôlego.
— Está tudo bem? — ele perguntou, notando meu choque.
— Eu… acho que já o vi em algum lugar, — disse, tentando entender por que ele parecia ter saído da minha memória.
Ele sorriu, constrangido.
— Talvez já tenha me visto. Houve um tempo em que eu tinha uma vida completamente diferente.
— Você poderia contar? — perguntei, sentindo que precisava saber a verdade.
Ele assentiu e sentou-se à mesa.
— Meu nome é Richard. Dez anos atrás, eu era empresário. Tinha uma família, esposa, filhos. Vivíamos numa grande casa. Tudo parecia perfeito, até eu cometer um erro.
Ele parou, olhando para a xícara de chá.
— Investi todo meu dinheiro em um projeto arriscado. Perdi tudo. Casa, negócios… até minha família se afastou. Desde então, vagabundeio por aí.
Eu ouvia, e meu coração se apertava.
— Richard… — parei, sem saber como continuar. — Você por acaso não era o proprietário da empresa “Clear Horizon”?
Ele levantou os olhos abruptamente.
— Como você sabe disso?
Eu não podia acreditar. Era realmente ele. O homem cuja história um dia li no jornal. O bilionário falido que desapareceu após a bancarrota. Naquela época, ele foi culpado de tudo, rotulado como aventureiro.
— Li sobre você… muitos anos atrás. Nunca pensei que o encontraria assim.
Ele abaixou o olhar.
— Agora você entende por que estou aqui.
Eu fiquei em silêncio, sem saber o que dizer. Diante de mim estava um homem que perdeu tudo, mas não reclamou, não pediu ajuda.
Muitos meses se passaram desde então. Ajudei Richard a encontrar um emprego, um lugar para viver. Tornamo-nos bons amigos, e eu me orgulho de não ter passado direto naquele dia.
Às vezes, uma decisão, uma boa ação pode mudar não apenas a vida de outra pessoa, mas também a sua própria. E percebi que ajuda e bondade sempre retornam.