“Quando todo o mundo se afasta e não acredita em você, apenas os amigos mais leais e altruístas permanecem ao seu lado.”

Aquela noite estava especialmente fria. A chuva caía incessantemente do céu cinzento, transformando as ruas da cidade em um brilho molhado sob as luzes dos postes. Em um dos becos escuros, na beira da calçada, estava sentado um homem com uma barba espessa e olhos cansados.
Seu casaco surrado mal o protegia do vento gelado, e as luvas finas não conseguiam esconder o tremor em suas mãos. Ao lado dele, aos seus pés, havia uma mochila velha — a única coisa que lembrava um passado que há muito tempo havia se tornado distante e estranho.
Um cachorro se aproximou lentamente do homem — um cão de pelagem ruiva, com manchas grisalhas no focinho, como as do próprio dono. Não foi sempre um cachorro de rua; outrora, ele tinha um lar, calor e mãos carinhosas que acariciavam seu dorso. Mas agora, não havia mais nada para eles, a não ser um ao outro e longas noites solitárias nas ruas da cidade.
O homem olhou para o cachorro, e em seu olhar surgiu um leve sorriso. Ele sussurrou baixinho: “Então, amigo, vamos passar mais essa noite juntos?” O cachorro, como se o entendesse, aproximou-se lentamente e sentou-se em frente a ele.
Seus olhares se encontraram, e naquele momento parecia que nem a chuva nem o frio tinham mais importância. Tudo o que tinham era o calor que podiam dar um ao outro.
Havia muito tempo, a vida do homem era completamente diferente. Ele era contador em uma pequena empresa, tinha uma família, uma casa cheia de alegria, mas tudo mudou rápido demais.
Perdeu o emprego, e pouco depois a esposa, que não suportou a série de infortúnios, e acabou na rua, sem conseguir sair das dívidas. Todos os amigos se afastaram, como se o medo da pobreza tivesse contaminado seus corações. O único que não o abandonou foi aquele cachorro, que ele havia encontrado na rua quando ainda era um filhote. Agora, ele era seu único apoio nesse mundo cruel.
Os transeuntes passavam apressados, sem notar aquelas duas almas perdidas que se abrigavam da chuva. Apenas uma pessoa parou para lançar um olhar a eles. Uma jovem mulher, vestindo um longo casaco, parou por um instante e tirou um pãozinho da bolsa.
Ela o colocou cuidadosamente ao lado do homem, que agradeceu em voz baixa, sentindo não só a compaixão, mas também o apoio — aquele fio invisível que ainda o ligava ao mundo.
A noite foi longa, e o homem pensou que talvez no dia seguinte as coisas pudessem mudar. Talvez ele encontrasse um emprego, ou quem sabe alguém lhe oferecesse ajuda. Mas, no fundo do coração, ele sabia: enquanto tivesse aquele amigo fiel, que o aquecia nas noites frias, ele teria uma razão para continuar lutando.
O cachorro colocou suavemente a cabeça nos joelhos do homem, como se confirmasse seus pensamentos. E mesmo sem ter um teto sobre suas cabeças ou uma cama quente, eles haviam encontrado um lar na silenciosa lealdade que compartilhavam.